Sobrevivente
“Acabei
com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída...
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída...
Mas
saí ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes
No peito atingido...
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes
No peito atingido...
Animal
arisco
Domesticado esquece o risco
Me deixei enganar
E até me levar por você...
Domesticado esquece o risco
Me deixei enganar
E até me levar por você...
Eu
sei!
Quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor
Eu sei!
O coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci...”
Quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor
Eu sei!
O coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci...”
(Trecho : FERA
FERIDA - Composição: Roberto Carlos)
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Tenho ido a uma ou outra reunião social por conta das festividades de
fim de ano e muitas vezes algumas pessoas, ao se referir a mim, dizem:
“Esta menina
é um exemplo de superação para todos nós.”
Sempre fico um tanto constrangida ao ouvir esta afirmação.
Não sou um exemplo de superação, sou meramente uma
sobrevivente,
Como são sobreviventes todos os que enfrentam o
trânsito e escapam de encontrar alguém embriagado ou fazendo uma ultrapassagem
em local proibido,
Como são sobreviventes todos os que trabalham de
sol a sol para produzir no campo o alimento que todos nós consumimos e
encontramos fresquinho nas feiras e mercados.
Sobrevivente como os professores que vão para as
salas de aula instruir alunos que estão envolvidos com drogas, violência e
outros problemas sociais de toda natureza.
Sobrevivente como as crianças que crescem se
alimentando mal por falta de recurso de suas famílias para comprar alimentos
nutritivos e saudáveis para que elas cresçam com saúde e se desenvolvam
totalmente apesar das doenças, da falta de assistência médica adequada.
Sobrevivente como um jovem negro, filho de pais
analfabetos que só estudou em escolas públicas e ainda assim entrou em uma
Universidade federal e se formou com louvor na profissão que sempre sonhou ter.
Se tive êxito após o meu acidente, e sobrevivi, e
consegui superar algumas dificuldades iniciais como a cadeira de rodas, meu
mérito é muito pouco em relação ao trabalho realizado pela minha família e os
profissionais de saúde que cuidaram de mim. Eles é que são os merecedores de
todo crédito.
E, é claro, a força maior que veio de alguém muito
Maior e mais importante do que todos nós, sim falo do Criador, o pai amoroso
que me concedeu a graça de ter comigo esta família e estes profissionais
trabalhando comigo, por mim e para mim.
Não teria conseguido nada sem esta força, porque
sem ela não haveria a família que me foi dada, nem os profissionais de saúde
certos no lugar e hora certos para me ajudar.
Talvez o meu pequeno mérito seja apenas o de
acreditar que podia acontecer que podia dar certo, que eu não devia desistir de
jeito nenhum de tentar melhorar.
Que ficar me lamentando ou parar de buscar soluções
seria pior.
Ou talvez, o meu mérito seja de achar que eu não
tenho idade para desistir, que na minha idade a vida só está começando agora,
mesmo que seja de uma maneira menos fácil do que é para a maioria das mulheres
da minha idade. Mas é esta a vida que eu tenho, e é assim que eu devo
aproveitá-la, é claro que eu sonhava com muito mais, com dias melhores, com
mais felicidade e menos dificuldade, mas como ganhei mais uns dias de vida. Posso
começar um pouquinho mais tarde do que todo mundo.
Bom encerro por aqui, estou com as óbvias saudades
de tudo e de todos, meu endereço mudou, mas não sou difícil de encontrar para
quem quer me achar.
Apareçam, no telefone, nas redes sociais pela
internet, na minha casa na Baixa Grande em Arapiraca ou na Unidade de
Emergência.
Estarei sempre esperando por cada amigo que resolver
aparecer.
Mônica Oliveira da
Silva, a
sobrevivente.
Não o
exemplo do que quer que seja.