segunda-feira, 25 de maio de 2009
Crônica Cedo ou Tarde
Cedo ou tarde
“E nesses dias tão estranhos
Fica a poeiraSe escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demaisNunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livresNós não estamos...”
Teatro dos Vampiros – Renato Russo
Sempre levei uma vida normal e nunca fui nada menos que isto, exceto talvez, por ter me destacado aqui e ali em alguma atividade que me dá prazer, escrever, por exemplo, ou organizar todo tipo de atividade cultural aqui na comunidade e na faculdade, mas fora isso minha vida foi sempre muito normal e tranqüila, segura por assim dizer, até que me veio este acidente e tudo rodou, girou vertiginosamente me fazendo muito mal, têm sido dias difíceis, eu sempre fui independente e ativa demais para de repente, ir parar em uma cadeira de rodas. Mas felizmente, venci esta fase, mesmo assim continuo dependente e limitada, meu braço esquerdo continua aqui imóvel, além de outros probleminhas de saúde que passei a ter depois disto como a falta de apetite, provavelmente porque faço pouca atividade física e é difícil ter fome assim, eu tento levar da melhor maneira possível, mas convenhamos, não é fácil. Por sorte, sou destra, e continuo podendo escrever, meu maior prazer, o que tem sido o meu consolo, uma forma de expressar as coisas que me atingem e ficam aqui nos pensamentos remoendo, remoendo. Mas há dias em que nem escrever me salva da dor, da dor da limitação, da dor da impotência, da dor da saudade... e outras dores que não vou lamentar aqui para não parecer que sou mal-agradecida, sobretudo por ter ficado com meus dons mais preciosos: a vida e a lucidez.
Não sou mal-agradecida, tenho uma noção muito exata do valor destas coisas, elas me permitem chegar até vocês mesmo que não possa ir de fato vê-los. Vocês são meu terceiro bom motivo pra agradecer. Por sorte, amizade não se abala com as limitações físicas, em alguns momentos parece que até se aprofunda. Tenho um sentimento muito maior do que sempre tive por cada um de vocês hoje, e acreditem, é muito, pois sempre os amei demais, se é que se pode amar demais.
Houve dias e noites ruins, noites em que lamentei minha dificuldade pra me cobrir na cama, caso o lençol que minha mãe põe em mim escorregue durante o sono e eu sinta frio, pois o ventilador está sempre ligado, e dias em que lamentei não poder ir vê-los como sempre fiz, simplesmente sair, subir num ônibus ou na moto e chegar até vocês, é que hoje não é mais assim, se sinto saudades, devo esperar até que vocês tenham um tempo pra vir me ver, o que eu sei, pois já estive do outro lado, nem sempre é possível; há o trabalho, as aulas, a família, e tudo isto implica tempo, quase não sobra nem mesmo para o descanso de vocês, quanto mais pra vir tão longe visitar um amigo.
Mas sou abençoada, posso escrever, mandar estes e-mails e esperar, a vida não acabou só está mais dura, muita gente já passou por dias difíceis assim, e se eu sobrevivi a um traumatismo craniano grave, vou sobreviver a todo o resto. Preciso manter a fé, não duvidar, dias melhores, mais felizes virão, cedo ou tarde.
Teatro dos Vampiros – Renato Russo
Sempre levei uma vida normal e nunca fui nada menos que isto, exceto talvez, por ter me destacado aqui e ali em alguma atividade que me dá prazer, escrever, por exemplo, ou organizar todo tipo de atividade cultural aqui na comunidade e na faculdade, mas fora isso minha vida foi sempre muito normal e tranqüila, segura por assim dizer, até que me veio este acidente e tudo rodou, girou vertiginosamente me fazendo muito mal, têm sido dias difíceis, eu sempre fui independente e ativa demais para de repente, ir parar em uma cadeira de rodas. Mas felizmente, venci esta fase, mesmo assim continuo dependente e limitada, meu braço esquerdo continua aqui imóvel, além de outros probleminhas de saúde que passei a ter depois disto como a falta de apetite, provavelmente porque faço pouca atividade física e é difícil ter fome assim, eu tento levar da melhor maneira possível, mas convenhamos, não é fácil. Por sorte, sou destra, e continuo podendo escrever, meu maior prazer, o que tem sido o meu consolo, uma forma de expressar as coisas que me atingem e ficam aqui nos pensamentos remoendo, remoendo. Mas há dias em que nem escrever me salva da dor, da dor da limitação, da dor da impotência, da dor da saudade... e outras dores que não vou lamentar aqui para não parecer que sou mal-agradecida, sobretudo por ter ficado com meus dons mais preciosos: a vida e a lucidez.
Não sou mal-agradecida, tenho uma noção muito exata do valor destas coisas, elas me permitem chegar até vocês mesmo que não possa ir de fato vê-los. Vocês são meu terceiro bom motivo pra agradecer. Por sorte, amizade não se abala com as limitações físicas, em alguns momentos parece que até se aprofunda. Tenho um sentimento muito maior do que sempre tive por cada um de vocês hoje, e acreditem, é muito, pois sempre os amei demais, se é que se pode amar demais.
Houve dias e noites ruins, noites em que lamentei minha dificuldade pra me cobrir na cama, caso o lençol que minha mãe põe em mim escorregue durante o sono e eu sinta frio, pois o ventilador está sempre ligado, e dias em que lamentei não poder ir vê-los como sempre fiz, simplesmente sair, subir num ônibus ou na moto e chegar até vocês, é que hoje não é mais assim, se sinto saudades, devo esperar até que vocês tenham um tempo pra vir me ver, o que eu sei, pois já estive do outro lado, nem sempre é possível; há o trabalho, as aulas, a família, e tudo isto implica tempo, quase não sobra nem mesmo para o descanso de vocês, quanto mais pra vir tão longe visitar um amigo.
Mas sou abençoada, posso escrever, mandar estes e-mails e esperar, a vida não acabou só está mais dura, muita gente já passou por dias difíceis assim, e se eu sobrevivi a um traumatismo craniano grave, vou sobreviver a todo o resto. Preciso manter a fé, não duvidar, dias melhores, mais felizes virão, cedo ou tarde.
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