sexta-feira, 8 de outubro de 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Crônica Você Se Lembra?

Você se lembra quando todas as estradas terminavam em uma noite estrelada?
Quando o vento era quente sobre a pista em vez de refrescar esquentava mais a pele.
Você lembra quando uma garrafa de café era feita pra ser dividida e tomada até não restar mais nada.
Você lembra quando se podia ser amigo e conversar sobre qualquer assunto sem qualquer censura. Você lembra quando um simples abraço podia curar qualquer mal-estar?
Você se lembra quando a tarde era toda azul e terminava com o sol baixando entre nuvens cor-de-rosa?
Você se lembra quando eu ria de quase tudo que você contava? Ou se não ria, ao menos sorria com interesse.
Você se lembra como costumávamos dividir a fome e o lanche?
Você se lembra quando sempre havia pressa? Quando o tempo era sempre curto? Mesmo que nós corrêssemos? Você se lembra quando foi que tudo começou a mudar?
Quando as estradas deixaram de terminar em noites estreladas.
Quando o café deixou de ser dividido.
Você lembra quando desinventaram o abraço.
Quando você deixou de me contar qualquer coisa.
Quando eu deixei de rir.
E quando o mundo ficou assim?
Quando não havia mais o que dividir.
Quando foi que o tempo ficou tão comprido? Quando passamos a caminhar devagar.
Você fará silêncio. Mas eu sei, você se lembra.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Crônica Chances

O Último Dia

Paulinho Moska

Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria

Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia

Composição: Paulinho Moska e Billy Brandão

Olhando para trás, para o que me aconteceu, relembro dias de pura felicidade que vivi graças à minha coragem, ou teimosia, ou a não ter dado ouvidos aos conselhos que ouvi...

Eu sei que esta é uma afirmação que pode gerar desconforto aos acomodados e aos que se julgam equilibrados. Vou explicar melhor:

Antes do meu acidente, alguns de vocês devem lembrar, eu não me incomodava em sair por aí sozinha com uma mochila nas costas para onde quer que fosse, ou de pilotar sozinha minha moto pelos quinze quilômetros que separam Arapiraca do Bom Nome a qualquer hora, com tempo firme ou com chuva, sem medo e sem esperar por ninguém.

Estas atitudes permitiram que eu tivesse vivido momentos de liberdade e alegria indescritíveis, e que hoje, devido a toda a limitação física que me foi imposta pelas seqüelas do TCE, hoje eu não poderia mais sentir, ao menos por enquanto, então eu penso em quanto arrependimento eu carregaria hoje se por qualquer razão naquela época eu tivesse deixado de seguir em frente em algum destes momentos, eu hoje lamentaria as chances perdidas. Mas, felizmente, eu sempre fui corajosa e aceitei os desafios que apareceram, como naquele fim-de-semana em que minha amiga Vanessa me convidou pra ir a uma reunião da família dela no Miaí de Baixo e eu, que além dela não conhecia mais ninguém na casa, havia ido na véspera da viagem a Garanhuns pra um show do Biquini Cavadão, banda que gosto muito, cheguei de manhãzinha de Garanhuns, vim pra Arapiraca, peguei o ônibus pra o Miaí sozinha e fui ao encontro da minha amiga na praia, vivi um dos fins-de-semana mais divertidos da minha vida daquela vez. Aí me pergunto, e se eu tivesse desistido do show ou da praia porque me diziam que era perigoso viajar sozinha, ou porque tivesse medo de me cansar demais, ou por qualquer outro motivo que alguém possa racionalizar nesta situação, hoje não teria as lembranças daques dias felizes e dificilmente teria outra chance igual àquela.

Vocês devem estar se perguntando o que a Mônica quer dizer afinal com toda esta história?

Eu quero alertá-los. Se vocês têm sonhos, se têm chances de realizá-los, por que não?

Por que esperar por um amanhã que é tão incerto?

Não dá pra prever em que condição estaremos amanhã.

Não dá pra saber qual chance nossa é a última.

Espero que esta pequena história os faça pensar nas oportunidades que vocês podem estar deixando passar de serem felizes, para que vocês não as percam.

Aguardo notícias, sempre cheia de saudades, sempre querendo um pouco mais.

Mônica

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Crônica Esclarecimentos

Você lembra, lembra!
Daquele tempo
Eu tinha estrelas nos olhos
Um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho
De cowboy...
Você lembra, lembra!
Eu costumava andar
Bem mais de mil léguas
Pra poder buscar
Flores-de-maio azuis
E os seus cabelos enfeitar...
Água da fonte
Cansei de beber
Prá não envelhecer
Como quisesse
Roubar da manhã
Um lindo pôr-de-sol
Hoje não colho mais
As flores-de-maio
Nem sou mais veloz
Como os heróis...
Sapato Velho -omposição: Mu - Cláudio Nucci - Paulinho Tapajós


Olá meus queridos amigos, hoje estive me perguntando se vocês ainda lembram quando nos tornamos amigos, ou por que razões gostaram de mim para me considerar uma amiga de vocês... Se ainda lembram de como eu era, o que me divertia ou o que me entristecia, se lembram de algum dos momentos em que rimos juntos e do que foi que rimos? Me perguntava estas coisas porque eu não tenho certeza se consigo me lembrar destas coisas, de quem eu era, o que fazia, o que me dava alegria de verdade, ou melhor, lembro de que certas coisas me deixavam feliz de uma maneira muito doce e inocente, coisas que infelizmente eu perdi. É preciso que eu lhes explique algumas das implicações do que me aconteceu em 2008.Um traumatismo cranioencefálico causa em todas as suas vítimas algumas seqüelas, umas eu sei que vocês já sabem porque são visíveis: Como a hemiplegia (a paralisia de um dos lados do corpo que faz com que não possamos andar ou movimentar um dos braços) neste caso tive alguma sorte, depois de cinco semanas de reabilitação voltei a andar, embora não possa cortar com as minhas mãos os alimentos. Mas há uma seqüela que não é assim tão obvia, e eu acho que é tão castradora quanto não poder andar. Vou lhes explicar do que se trata: chama-se Heminegligência, termo ao qual fui apresentada no hospital Sarah Kubistcheck em Salvador. Significa que uma pessoa que sofre um trauma cerebral perde parte da atenção do campo visual em um dos lados do que vê, e devido a isto torna-se um perigo para si própria, perde a independência, já que não pode andar pelas ruas desacompanhada sob o risco de ser atropelada ao atravessar uma rua por simplesmente não perceber a aproximação dos veículos no trânsito. Esta era uma das coisas que me dava esta alegria doce: caminhar num fim de tarde nas ruas do centro, parar e comer uma torta de frango com um café com leite numa padaria, ir do centro à faculdade a pé. Mas perdi estas coisas porque não posso caminhar mais sozinha no centro, aliás nem no meu bairro. O motivo de eu estar lhes contando isto é uma preocupação que surgiu em mim hoje: Se algum dia vocês me virem por aí e quiserem falar comigo, pode acontecer de eu não os ver, por favor compreendam, não é porque não queira falar com vocês, é que se vocês vierem na minha direção pela minha esquerda pode ser que eu não os veja, por isto se me virem caminhem até mim pela minha direita. Já perdi muitas coisas, não quero perder a amizade de vocês por uma coisa tão tola quanto não vê-los. Sinto saudades de encontrá-los, sentar em uma mesinha de bar, pedir um caldinho ou espetinho de coração de frango e tomar alguns goles de cerveja com aqueles com os quais já fiz isso, sinto saudades de subir na minha moto e pilotar por alguns minutos e chegar a qualquer ponto do estado por conta própria do sertão ao litoral, era uma liberdade boa de viver, sinto saudades do palco, da pracinha de matemática na faculdade, do corredor de Letras, de certos cafés que eu mesma preparei e não preparo mais porque há medo de que eu me queime. Não quero que vocês tenham pena de mim, estou bem, me acostumando à nova realidade, mas não sem lutar para modificá-la. Faço muito tratamento para me reabilitar, a questão é que como tudo na vida leva tempo, talvez algum dia voltemos a fazer o que fazíamos juntos antes de me acontecer isto...
Até porque parei, temporariamente quase todos os meus projetos, que não eram poucos, ficaram inéditas duas peças de teatro, o Livro por publicar, o TCC por terminar, estou cuidando dessas coisas também enquanto me trato. Com exceção das peças de teatro que não estamos ensaiando, mas o TCC e o Livro são projetos em andamento.

PS.: Queria não tocar neste assunto outra vez, o acidente, as seqüelas, as dificuldades... mas não há como fugir do tema. Às vezes é necessário desabafar, desengasgar de algo que nos incomoda, e escrever é a melhor maneira que eu conheço pra fazer isto.
Por favor, não deixem de responder a este texto, quando vocês me respondem não tenho a sensação de que estou escrevendo para ninguém...
Mônica

terça-feira, 30 de março de 2010

Amizades

Texto meu enviado por e-mail em 23 de Abril de 2008...

I’ll Be There For You…


I'll be there for you (like I've been there before)
I'll be there for you ('cause you're there for me too)

'Cause you're there for me too..

(Eu estarei lá por você/

Como estive lá antes

Eu estarei lá por você/

Porque você também já esteve lá por mim...)

Refrão da eterna música tema de Friends cantada pelo The Rembrands

Amigos são a família que a gente escolhe.

Ou amigos são a família que a vida escolhe para a gente ou ainda, amigos são a família que a gente não sabia que tinha e a vida trata de trazê-los para junto da gente.

Seja qual for a sua teoria, você provavelmente vai concordar que amigos são essenciais.

Amizade é um tema tão bom que um dos maiores sucessos da televisão mundial chamou-se Friends. O seriado durou dez anos e só acabou porque os atores quiseram tentar fazer outras coisas de suas carreiras... nós, o público assistiríamos felizes uma outra década de episódios daquelas seis pessoas que com todas as diferenças estavam juntas por uma única razão, afeto sincero. Amizade.

Não faz muitos dias, conversando com uma pessoa sobre amizade, ouvi a frase com que inicio este texto. Ela me falava que com certa expressão de felicidade que o amor platônico existe: está condensado numa amizade, dessas que esquece até aqueles princípios e preconceitos de criação e perdoa as maiores diferenças em nome da saudade, em nome do carinho, amizade que ela me contava sentir por um homem.

Homens e mulheres envoltos em fortes amizades. Há quem diga que esta forma de carinho não existe puro e despretensioso assim.

Amor, puro amor. Não é a amizade um das formas do amor? Esse gostar, esse querer bem, esse companheirismo, saudades, essa paz de ter com quem contar, com quem rir e com quem chorar, seja de qual for o sexo. Sair com eles ou com elas, tomar uma cerveja, ou duas, ou muitas se esta for a vontade.

Há um mito descrito em O Banquete de Platão (o mesmo do amor platônico) em que um ser de natureza andrógina e portanto, completa em si mesma teria sido dividida por Zeus e desta divisão surgiu a carência de (re)unir as duas partes novamente e preencher o vazio da incompletude de cada uma das metades. Esta seria a explicação mítica dos gregos para o amor.

Mas amizade tem outra natureza, a amizade não é uma ausência, uma parte a ser preenchida, a amizade é apenas uma soma, não de duas metades, mas de dois inteiros, dois seres completos. Amizade é fartura, por isso é paz, é bem estar.

O grupo de Friends tinha seis pessoas, o de Queridos amigos tinha onze, o principezinho e o piloto foram suficientes para se escrever um belo livro sobre amizade em O pequeno prícipe.

Na verdade o número de amigos que temos é o que menos importa. Saber reconhecê-los quando a vida os traz é que é importante. Com o tempo eles aparecem, entram nas nossas vidas, fazem uma marca aqui, ajudam a gente num momento ruim ali e de repente “amizades-família” se fazem.

Amo minha família, a família de sangue e esta que a vida me deu. Estas pessoas por quem rezo antes de dormir e com quem gostaria de somar para o resto da minha vida. Estes amores platônicos: Meus amigos.