sexta-feira, 19 de junho de 2009

Eu vou pegar a chuva

"esta é a crônica mais recente e marca um período novo"
Eu vou Pegar a Chuva


I used to think As birds take wing
They sing through life so why can't we?
You cling to this You claim the best If this is what you're offering
I'll take the rain
I'll take the rain
I'll take the rain.
Eu costumava pensar,
como os pássaros voam,
Eles cantam pela vida, então por que não podemos?

Nós nos apegamos a isso e

reivindicamos o melhor
Se isso é o que você está oferecendo
Eu vou pegar a chuva
eu vou pegar a chuva
eu vou pegar a chuva.



Resolvi virar a página, não rasgá-la porque rasgá-la é impossível no momento. Vou virar o disco, não trocá-lo. Estou seguindo os conselhos de dois amigos a quem amo muito, um com amor tipo Philos, quem desconhece o termo vá em busca no nosso grande amigo Google, é o amor a nível fraternal, entre amigos, mas é mais forte e verdadeiro. O outro que me deu este conselho eu amo com o amor Éros, que tem o significado que vocês imaginam, foi a minha grande paixão. De qualquer forma estes dois amores, Philos e Eros me deram o mesmo conselho: deixar para trás.
E achei que eles estavam certos por isto o texto de hoje.

O acidente foi há mais de dez meses, eu tenho dificuldades, vocês sabem disto, eu não preciso ficar lembrando o tempo inteiro, pois não me ajuda, nem me engrandece. É preciso mesmo virar a página, falar outros assuntos. E uma coisa maravilhosa aconteceu nas ultimas semanas: eu voltei a ocupar meu lugar no meu posto de trabalho. Estou de volta à Unidade de Emergência todas as tardes, agora indo de carro com meu irmão que também trabalha lá. O retorno ao trabalho foi muito tranqüilo, até festivo, o pessoal, como eu esperava me recebeu com festa, teve bolo, sala enfeitada, fotos... e eu feliz da vida em voltar a ser útil, o tempo, graças a Deus tem passado menos arrastado. Assim a vida ficou melhor, eu voltei a fazer meus cafés no serviço, (pra minha alegria e dos colegas) e o que me deixa feliz de verdade é saber que lá no Faturamento (meu setor) estou devolvendo à casa onde minha vida foi salva o que os colegas fizeram por mim. Além disto tudo, o que me aconteceu me deu boas coisas também, a primeira e mais importante diz respeito à minha espiritualidade, ficou claro pra mim o Amor de Deus por mim, eu descobri em mim uma força que eu não sabia que tinha e minha família, em todos os níveis, todos os graus de parentesco tornou-se mais unida, além das incontáveis mostras de carinho que recebi de vocês, os amigos. Um dia que eu espero, não esteja longe, eu quero poder arrancar definitivamente a página desta parte da minha história e jogar fora este disco.
Amo a vocês, isto não muda, quero vê-los, quero tê-los perto de mim, agora só não de 13h às 19h, horário em que estou no trabalho, mas quem quiser aparecer na UE, meu setor é o Faturamento.

Me avisem antes.
Um grande beijo, e um grande abraço,
Ainda com Saudades;
Mônica.


Nada de Extraordinário

"Resolvi postar esta Crônica a pedido de um amigo, que segundo ele, é a que mais gostou, sobretudo no que fala do barro vermelho da minha terra"

Crônica da Mônica
12 de Abril de 2005

O que há de extraordinário nisso?
Eu, a Moto, a pista, a noite, a chuva, os caminhões, a lama, os faróis, a água descendo pelo meu rosto, a água descendo pela viseira, a roupa molhada, o punho gelado, e o velocímetro em 70, o gosto da água da chuva, o cheiro do vento frio, as borboletas batendo na carenagem...
Na noite anterior que diferença: eu, deitada no banco de trás do carro, um irmão dirigindo, o outro calado, a Enya tocando no rádio, madrugada, o céu claro e estrelado. Eu só podia ver rapidamente; os postes que cruzavam sobre a pista, os fios de eletricidade e o galho de alguma árvore. Deitada no banco de trás o céu parecia imóvel. A mesma estrela me acompanhou por todo o caminho.
Não havia estrelas no céu hoje e a luz vinha mesmo dos postes, dos faróis que refletiam em cada gota de água na viseira do meu capacete.
Na noite de hoje eu fiquei bem na lanterna, meus irmão me deixaram bem pra trás. Eu corria pouco, chovia muito e a cada caminhão que passava a sensação de frio e de resistência do ar, claro, era maior. A cada curva a lanterna da moto em que eles iam parecia que ficava mais distante.
A rodovia dá uma sensação de liberdade que demorei a perceber, nem faz muito tempo que comecei a pilotar minha Biz (se chamar de moto alguém pode estranhar), mas assim com os irmãos, de madrugada, voltando pra casa, na rodovia, é liberdade doce, suave, gostosa. Sem pressa, sem tráfego, com aquela sensação de mais um dia vivido, com aquela sensação de retornar ao lar.
Sabe do que mais? Nenhum dia é igual ao outro. Daí hoje apareceu a chuva pra renovar as sensações, pra lavar a alma, pra me batizar. Já não morro pagã. Depois da odisséia AL 115 com chuva numa Biz, tive certeza: eu precisava experimentar essa viagem.
Quando a rodovia acabou, veio a lama até a minha casa. Morar no sítio é bom mas há dias em que é preciso um pouco mais de coragem pra sair pro mundo. A lama do Bom Nome é vermelha igual fruta de Safroa, a lama do Bom Nome desliza e a água toda corre na direção da pista, a lama do Bom Nome não sai nunca mais da pele da gente. (acho até que não sai nunca do coração de quem vive aqui também). A moto patinava em certos pontos, dançava como se ouvisse música. Eu tinha medo. A moto dançava e meu coração parecia sair do lugar, meus irmãos na outra moto iam calmos bem à frente e seguiam reto, eu buscava caminhos, trilhas mais enxutas e quando finalmente cheguei em casa tive uma deliciosa sensação de que venci um desafio, que completei outra jornada, de que descobri algo novo, um gosto bom na boca, uma paz de espírito...
Pendurei as roupas molhadas na varanda e fui até a sacada pra olhar a rua. Estrada com lama, chuva refletindo na luz do poste, som de sapos cantando na lagoa lá em baixo perto do areal e as folhas da árvore em frente a casa brilhando, brilhando. Vento frio no rosto e silêncio dentro de mim.
Noites como essa em que nada de extraordinário acontece é que percebo que coisas a toa são o suficiente pra se gostar de viver, basta saber sentir.