sábado, 21 de fevereiro de 2009

Crônica número 16 Exílio

Foi em 2005, eu estava machucada, outra queda de moto, mas sobrevivi e apenas doeu, graças a Deus, é passado.

Crônica da Mônica
Meu quarto, 06 de Setembro de 2005




Me machuquei e juro que pensei que não era nada de mais. O resultado é que tive que ficar duas semanas em casa me recuperando. Mônica no exílio do seu próprio lar. Longe dos amigos, longe da liberdade da estrada, longe da faculdade, do café da tarde no trabalho, longe da voz de gente que encontro por aí, longe de olhos que me dão e me tiram a paz.
Senti falta de tudo, senti falta de todos. Meus amigos me telefonaram, mandaram mensagens, alguns vieram me ver, mas as horas ficam mais longas quando saímos da nossa rotina.
Quando caí no chão, eu fiquei de olhos abertos e vi a moto deslizando por um instante entre os limites da viseira, levantei e vi meu joelho machucado, depois hospital, curativo, casa, noite ruim pra dormir, mais um dia, outra noite, trabalho, dor, remédio, curativo, atestado médico, fim de semana, dor, licença médica, dor, choro, filme, livro, dor, choro, intervalo de dor, telefonema dos amigos, dor, janta, remédio, novela, computador, campo minado, DVD, dor, diário, sono, pesadelo, café da manhã, remédio, curativo, jornal, dor, sessão da tarde, bolo, poesia, novela, jornal, quarto, desenho, menos dor, mensagem no celular, sorriso, resposta, gaveta, fotos, mais fotos, lembranças, saudades, pomada, curativo, impaciência, remédio, sono, manhã, choro do filho da vizinha, desenho animado, leite achocolatado, almoço, revista, inquietação, subir e descer escadas, fim de semana, jogo da seleção, olhar a rua, telefonema, saudades, solidão, silêncio, solidão, escuro, noite longa, posição ruim pra dormir, sonho bom, sorriso, saudades, remédio, saudades, café, saudades, música, saudades, filme, saudades, dor no coração de tantas saudades...
Não sei ficar quieta, o meu natural é estar serelepe (rsrsrsrs), me ver obrigada a ficar parada foi a pior sensação do mundo, desacelerar, parar e só poder esperar.
Cheguei a ponto de ficar íntima de mim mesma, me contei segredos inconfessáveis, me escrevi um ou outro versinho, conversei comigo mesma por horas e horas, me dei conselhos mas suponho que nem os ouvi porque no fundo eu sou teimosa e os conselhos entram por um ouvido e saem por outro. Em certo momento eu não me agüentava mais, descobri que sou muito chata, não sei como as pessoas me agüentam (será que me agüentam?) principalmente quando sinto dor, fico feia e desinteressante, tive vontade de terminar com a amizade, me mandar pra longe, mas no fim não consegui, sou péssima em terminar relacionamentos e despedidas.
Às vezes eu abria a janela e pensava “esse vento é o mesmo do furacão que devastou Nova Orleans, esse vento fez estragos no Japão, esse vento que destruiu Muitos Capões no Rio Grande do Sul, que virou barco em São Luiz do Maranhão, é esse vento mansinho que está movendo os meus cabelos, fazendo carinho no meu rosto, estará trazendo o quê pra mim?” Todos os dias o vento estava nas notícias, o vento, invisível, varrendo cidades inteiras, essa brisa fria no fim das tardes podia se transformar em algo tão poderoso que seria capaz de ceifar centenas de vidas. A gente subestima a força da natureza, subestima os próprios limites, subestima a dor, pensa que é forte, que tem muita vida; não, a gente só tem uma vida e às vezes se vê obrigado a desacelerar.
Caí de moto por um descuido na lama, estava devagar, só feri o joelho e esse mesmo joelho me tirou de circulação por uns dias longos. Se estivesse mais rápido podia ter sido pior, o corpo é frágil, pouca coisa vira muita, um instante de pressa vira uma eternidade de espera. No dia em que caí um grande amigo me disse para não ir, eu disse “me dê quinze minutos e eu já chego”, ele insistiu que eu esperasse, mas eu fui. Parece que ele estava adivinhando, era vinte de agosto.
Virei uma página do calendário e só deixei de sentir dor no primeiro dia de Setembro, para estar de volta depois do feriado da independência.
Duas semanas, eu comigo mesma, espero me ver menos e me enxergar mais, espero viver bem mais, espero ver mais a quem amo, mas espero amar bem mais e sem dor por favor. Pra mim já chega!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre a faculdade em início de ano letivo

Crônica da Mônica, 09 de Fevereiro de 2004

E ARIBOBA!!!!
As aulas na FUNESA voltaram, estamos aí com o mesmo ânimo baixo, a mesma vontade de não fazer nada e com um apetite nunca registrado na história. Tomando sorvetes de dois andares... e coca-cola até quase se afogar.
Nos últimos dias o que temos visto é um passear de cabeças raspadas e band-aids nas sobrancelhas (a maioria verde, será que é moda ou as farmácias não têm outras cores?) Os feras estão cá fera nos corredores, pátio e praças da faculdade. Tudo cheio o tempo todo. No Alemão o pessoal se junta pra conversar, comer, assistir a novela das oito e um pedacinho do big brother. No Divino Chopp toda noite tem fila dupla na rua, mesas cheias no bar e muita cerveja nas canecas (hum, delícia!). Amigos se reencontram, o pessoal de Química sempre na pracinha da frente, os de Geografia na do meio, os de Matemática na de perto do Alemão. A FAJEAL continua pródiga em fazer moda. E aquela velha rivalidade de brincadeira continua entre um lado e outro da FUNESA. Se a gente na FFPA fala do pessoal da FAJEAL é só por que é a mais pura verdade.(rsrsrs) Nada!!! A turma de lá é muito legal também ou então eu é que de intrometida me misturo em todos os grupos.
Quando tudo começou há alguns anos (agora perdi a conta, às vezes parece que sempre estive lá) eu estava oscilando entre encantada e assustada, tive uma noite horrível de primeiro dia de aula, não conhecia ninguém, e as “aulas” do meu first day terminaram cedo, fui sozinha pro centro da cidade, fiquei horas esperando o ônibus que me levaria de volta pra casa, num frio horrível do mês de Julho e ainda acostumada a dormir cedo. Sono, frio e solidão. Realmente foi meio traumática aquela noite, deu tempo de escrever poesia sentada naqueles banquinhos antigos que existiam no calçadão (vocês lembram? Eram de madeira com a base de ferro, pintados com tinta óleo branca. Sou desse tempo.) Tanta coisa mudou de lá pra cá.
Naquele ano assistimos dezesseis capítulos de Presença de Anita – Ne me quitte pas/ il faut oublier/ Tout peut s’oublier/ qui s’enfuit dejá/ oublier le temps/ Des malentendus/ Et le temps perdu/ A savoir comment/ oublier ces heures/ a coups de pourquoi/ Ne me quitte pás/ Ne me quitte pas/ Ne me quitte pas/ Ne me quitte pas.- e só se falava nisso, hoje só se fala em quem foi indicado pro paredão da semana. Eu pelo menos, vejo nisso algo negativo (desculpem-me os fãs do BBB).
Quando cheguei na faculdade não havia o espaço que hoje conhecemos como restaurante do Alemão, era mais uma cantinazinha escondida numas plantas. O estacionamento era muito menor, haviam mais árvores e lugares inexplorados eu acho, pra não dizer esquisitos. Menos salas, o espaço onde funciona o curso de Ciências Contábeis não existia, aquela praça em forma de círculo na FAJEAL também não.
Certas coisas nunca mudam, a Taquarana continua sendo a Taquarana, quem está lá sabe do que estou falando (Química, segundo ano, por exemplo). O corredor de Letras continua o mesmo, com suas salas apertadas, barulhentas e quentes. O professor Antônio (Malvadeza) continua aterrorizando os pobres estudantes de Geografia e História. Ronaldo Leão os de Letras, Neosvaldo os de Matemática. A Eleuza continua a ensinar Metodologia cientifica a toda a FFPA. O DCE continua sendo uma interrogação na cabeça da maioria dos acadêmicos. E o bar da esquina, com suas mesas amarelas continua firme, ganhando clientes que não cabem mais no da outra esquina, com as cadeiras vermelhas, mudou o nome e o dono mais sempre foi assim.
Hoje existe aula inaugural (depois da primeira aula, é verdade, mais ainda sim, aula inaugural), hoje todo mundo já vem com jeito de entrosado (to me sentindo a maior das matutas e pior, to me sentindo velha) hoje parece que a faculdade tá fervendo, vi muita animação nos últimos dias, fui ao trote pela primeira vez (não fui nem ao meu) e encontrei lá desde o primeiro amigo que fiz na FUNESA (Elielson) até os últimos (o pessoal que foi a praia no carnaval) e parece que a turma só aumenta, com a chegada dos feras vieram irmão, prima, colegas de outros tempos, mais amigos...
Comecei a ver a vida de forma diferente depois que entrei na faculdade, vivi dias incríveis, momentos hilários, horas tristes, conheci pessoas incomparáveis, senti paixões que vieram e se foram. Talvez um dia eu termine meu curso, nem sei ainda, ou talvez eu nunca deixe de ter comigo um pouco de estudante, talvez eu vá e volte, nunca se sabe...

“ O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que elas acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” – Fernando Pessoa

Homenagem aos estudantes do curso de Matemática

Vivi em convivência amigável com estes seres interessantes que são os estudantes de Matemática de 2001 a 2008. Foi um periodo feliz, tenho ainda grandes amigos entre eles. E me orgulho disso
Eis a crônica:


Crônica da Mônica
Quinta-feira, 02 de dezembro de 2004

Quando entrei na faculdade à cerca de 3 anos, eu tinha uma teoria sobre a sanidade mental dos estudantes das ciências exatas. E tão logo o curso começou, eu tive a oportunidade de entrar em contato direto com esses espécimes exóticos de seres humanos. Os estudantes de Matemática para ser mais exata. Fui introduzida (sem trocadilhos, por favor!) no habitat natural deles por um colega que hoje está no terceiro ano, descobri naquela época que fora alguns pequenos lapsos, quase todos são pessoas normais e que até têm uma maneira muito boa de viver; gostam duma cervejinha em grupo, futebol, festas, são quase normais não fosse sua estranha fascinação pelos números.
Essa fascinação é capaz de levá-los a um êxtase infinitesimal, se possível à loucura. Dias passam e a paixão não diminui, horas e horas de dedicação: funções, logaritmos, conjuntos, matrizes e tantos outros bichos de sete cabeças povoam os sonhos mais íntimos deles; talvez em um relacionamento afetivo isso seria chamado de masoquismo, quanto maior a dificuldade ou o sofrimento proporcionado, melhor.
No entanto, nada se compara à excitação coletiva proporcionada por um dia de prova. É uma visão surreal, amontoam-se na saída das salas e começam falar em códigos sobre seus desempenhos no teste e ali naquele meio é impossível penetrar e ter uma conversa sem que algum deles volte de repente a falar de alguma questão mal-resolvida. Isso quando se consegue participar da conversa, pois é mesmo possível chegar, dizer boa noite e ter o vácuo como resposta.
Ficam lá eles com suas retas, pontos, circunferências enquanto a vida segue buliçosa pelos corredores da faculdade sem que nossos heróis notem nada...
Fazer o quê? Alguém ia ter que estudar isso. A nós resta paciência, compreensão ou um belo passeio pelo prédio, quem sabe, a gente encontra outra turma, outros ares, outro ecossistema.

Homenagem ao Carnaval

Esta Crônica é histórica, fala de um Carnaval vivido em 2005, com vários amigos no Pontal do Coruripe. Fatos hilários, e estórias inacreditáveis rolaram além, é claro, de uma trilha sonora péssima mas todos nós sobrevivemos com ou sem arranhões daquele episódio.

Com vocês a minha Crônica do Carnaval 2005:

Crônica da Mônica
Arapiraca, 10 de Fevereiro de 2005.


UEueueueueueueueueueueueueueueue abre, abre, abre que é sucesso!
Carnaval no planeta Brasil! Alegria doida na cabeça de milhares de pessoas pelo país inteiro. E eu que não sou do carnaval desta vez me juntei aos bons e fui pra perto das franjas do mar pra ver e viver essa alegria.
Cabral, Chibata (Kleber), Cláudia, Danielle, Eu, Emerson, François, Guiné (Anderson), Helder, Isaac, Jean, João Paulo, Kélvia, Leandro, Luana, Luciane, Magnólia, Max, Mônica, Paulo, Sandra, Silvio, Tales, Tony, Wandernilson. Até reunir todo esse elenco foi batalha.
Nos dias que antecederam a viagem, a pauta mudou várias vezes, (uma grade por pessoa ou vinte grades?), (quanto vai ficar o valor?) (quem vai de ônibus,quem vai de moto?)
Desde o início de Dezembro que essa viagem estava sendo preparada. Quando vieram as férias eu e o François fomos até lá pra procurar um lugar que seria o quartel general de nossa nova empreitada, não sabíamos o quanto íamos ter que sofrer ainda por causa disso.
Mas deixando de lado os dissabores, enfim o grande dia da viagem, tava todo mundo em frente à famigerada budega do François. Mais da metade do ônibus ficou tomada pelos colchões, travesseiros, malas, ventiladores, caixas de alimentos e afins...
Spinowfai Ô Ô Ô spinim (aff! Que língua é essa?)
Mais adiante vieram as cervejas, e quando estávamos abastecidos começamos a odisséia que seriam os próximos dias. A cachaça começou na ida, aliás, verdade seja dita a respeito da cachaça que a Cláudia preparou: A bicha dá um fogo!!! Ela foi responsável pelos melhores momentos no trio elétrico, acho que nunca dancei tanto na minha vida. Era efeito garantido. (tenho que pegar a receita).
A casa... bem podemos esquecer a casa neste texto, deu pra passar as noites não foi? Isso porque dormir foi um verbo em desuso em todo o Pontal do Coruripe, no máximo cochilar.
Logo no primeiro dia houve o batismo nas pedras da praia, todos, inclusive eu, cortamos alguma parte do corpo, François, Jean, Silvio, Eu, Tales, e quem mais se aventurou a subir nas pedras.
Em poucas horas percebemos a vocação do Chibata Seca para a sobriedade: nenhuma. Ele com sua elegância de galã de novela mexicana, proporcionou a todos nós momentos inesquecíveis de porres homéricos e fotos comprometedoras, houve quem quisesse afirmar que nosso doce Camarãããããããão gigante é professor de matemática. Não faço comentários a cerca de estudantes de matemática. (motivos pessoais).
No contregum, no contregum, no contregum, no contregum!!!
Outro destaque em nossa caravana foi o moreninho Cabral. Ele inventou algo surpreendente: A coreografia universal. Se a música era samba, nós tínhamos a oportunidade de assistir ao movimento de língua mais sensual já registrado em um carnaval e uma mão que descia voluptuosamente pelo braço de nosso amigo descobridor do Brasil. Se a música era pagode, também a mesma língua, se era forró, lá vinha ele com sua dança, podia mudar a banda, podia mudar o ritmo, mas a dança era a mesma, foi a era Coisinha de Jesus.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Dor Vicia

Este é um pouco mais antigo mas eu gosto muito deste texto, principalmente pela receptividade que ele obteve dos meus leitores.

Dor vicia.
A dor nesta terra Severina (licença a João Cabral de Melo Neto) é moeda que vale muito. Nesta nossa exaltação dos sofredores, discos vendem-se aos milhares, estórias tristes se repetem até a exaustão na televisão, nas novelas, nos jornais, nos programas de auditório em que se ganha a audiência em cima de algumas lágrimas de pai, mãe ou irmãos, melhor ainda se forem lágrimas de crianças.
E de onde vem essa nossa necessidade de martírio, de purgação? É da religião? Da escola? Da família? (me diga alguém que souber).
Dor vicia.
Mais do que qualquer droga, sofrer preenche vazios. Cantaria um expert em sofrimento chamado Renato Manfredini Jr., o Russo, um dia: Parece cocaína, mas é só tristeza...
De tempos em tempos a gente acorda e pensa: Hoje vou sofrer e simplesmente sofre. Quem não for assim então me olhe com seus olhos que nunca choraram.
E motivos para sofrer todo mundo acha fácil os seus: o leite que derramou, o bom dia que não veio, o silêncio do quarto, o remédio de pressão que acabou, a novela, a falta de inspiração para escrever...
Eu já conheci quem sofresse porque tirou oito em prova: Eu tinha certeza que ia ser 10.
Sofre-se por tudo e toda dor é legítima.
Nossa nação com todos os seus carnavais é uma terra de viciados em dor. Ambulatórios estariam ainda mais cheios se tivessem inventado um tratamento para a epidemia de dor.
Os nossos grandes artistas, o que seria deles sem este vício coletivo? O Roberto sem “Detalhes”, o Chico sem “Atrás da porta” e aquele exagero só pra provar que ainda sou tua. O Vinicius sem o “Soneto de separação”. O Legião sem “Vento no litoral”. O Machado sem o Bentinho remoendo eternamente uma suposta dor de corno em “Dom Casmurro”?
Isso para falar em grandes; se a gente descer um pouco no prestígio dos artistas vamos notar fácil que o povão ama o sofrimento do Amado Batista, as lamentações dos sertanejos [os cantores], o sofrimento da mocinha na novela mexicana.
Tentemos ser felizes só para ser diferentes. Mas tomemos cuidado com a abstinência da dor, saudades de sofrer.
Ser totalmente feliz é uma farsa. Desconfie dos felizes, eles provavelmente sofrem escondido, logo, são falsos. Fique longe deles.